sábado, 5 de abril de 2008

Reproduzindo recordações

Na minha história de vida existe um objeto pesado e ,hoje , até obsoleto. Mas ele teve um grande marco no meu emocional. Um pouco grande e pesado,não podia ser removido com facilidade,por isso passou décadas juntinho de mim. Ele foi ofertado pelo meu pai. Então, com a passagem dele para outra vida, o vínculo afetivo entre o objeto e eu se tornou mais forte.
Durante a nossa convivência, ele foi alvo da curiosidade de maridos e filhos.Tocado por aqueles bracinhos curiosos que queriam mexer,experimentar,conhecer. Observado por olhares adultos que não entendiam o seu funcionamento.
Ele ficou ao meu lado por mais de 30 anos.Muito mais do que o meu marido.E confesso,tinha mais ciúme do objeto do que do mancebo ao meu lado. Cheguei a cede-lo por um tempo ,mas com a supervisão do meu filho mais velho,que era quase um enteado dele. Mas a pessoa com quem ele estava,temporariamente,não honrou com seus compromissos e,quando fui buscá-lo,ao perceber que ela me ofendia,ele se revoltou. Por pouco não se lança à cabeça da pobre,com o intuito de me defender.
O tempo passou,minha vida mudou,a atividade profissional cessou e resolvi dar a ele uma aposentadoria digna. Liguei para uma entidade beneficente e pedi que viessem buscá-lo. Braços gentis o retiraram da sala,enquanto grossas lágrimas rolavam em minha face. Lá estava indo meu velho amigo de estrada. Amigo que ajudou a reproduzir muitas histórias,passou por muito momentos de avaliação,ajudou a colorir os olhinhos infantis e muitas coisas mais.Detalhe:Nunca adoeceu. Era também um pouco da minha história que estava partindo,junto com um gesto lindo do meu saudoso pai. Pensei que talvez tivesse precisando de uma terapia.
Mas esse mundo é muito pequeno. Anos depois,voltando ao campo profissional, relatei a uma colega esse episódio e ela me disse que o conhecia.Para meu espanto e alegria, ela doava seu tempo livre na mesma instituição para onde ele tinha ido.E ela mesmo já havia tido a oportunidade de trabalhar com ele.
Fiquei radiante como se tivesse recebido a carta de um velho amigo que foi morar na Europa.
E hoje, resolvi prestar essa homenagem ao meu velho amigo mimeógrafo ,da marca Remington,presente do meu pai,em 1972,quando me formei em professora.Essa foi mais uma recordação que ele me ajudou a reproduzir.
Muito obrigada.